A primeira etapa de um livro é o medo.
Medo de escrever, de publicar, de ser lida, da crítica, das resenhas, da incompreensão. Medo do sucesso.
O primeiro sentimento ao iniciar a construção de um livro é o medo. Medo de escrever, de publicar, medo de ser lida, medo da crítica, medo de ser ignorada pela crítica, de ser massacrada por ela, medo das avaliações nas redes de leitores, medo das resenhas, medo da incompreensão. Medo do sucesso.
Em toda a minha trajetória, senti ansiedade, frio na barriga e medo em todos os processos de escrita, edição e publicação de cada livro. Nunca foi diferente. E eu atribuo isso ao fato de que todos os meus livros sempre vieram de lugares internos muito genuínos, de convicções que eu tinha, intenções, confiança até mesmo na forma de escrever. Confiança e medo sempre caminharam juntos e, apesar de Um buraco com meu nome ter poemas que considero pessoais, nenhuma outra obra escrita por mim é tão crua e dolorosamente íntima como a que estou escrevendo agora.
Se você perdeu o anúncio que fiz no Instagram, eu te conto: estou no processo de construção de um novo livro e ele é de poesia. Considero que estou bastante avançada na escrita, mas no momento encaro uma pausa, pois já dei muito de mim em tudo que criei até agora. É por isso que penso no medo, porque dessa vez será bem diferente e tudo soará bastante pessoal. É preciso ter preparo psicológico e aceitar o ruim, o bom e o maravilhoso com pés no chão. Porque meu valor como pessoa, como mulher, não está nas reações que podem me provocar medo.
Tenho certeza que a maioria de vocês que estão escrevendo um livro também passam por rompantes de temor. Ansiedade. Dúvida. E se perguntam se deveriam publicar. Até mesmo escrever. E eu não posso responder ou escolher por vocês; o que posso fazer é garantir que esse processo não é solitário. Construir um livro nunca é. As que fizeram antes e as que fazem agora compartilham conosco um oceano de sentimentos, apegos e transformações que acontecem enquanto um livro é escrito.
Nesse instante, enquanto digito esse pequeno primeiro texto da newsletter que vocês leem, reflito sobre quanto receio há em mim, analiso os tremores dos meus joelhos, mas concluo que sei me manter de pé. Nesse lugar completamente novo, consigo me centrar, aterrar e firmar. Apesar do medo, a coragem. Essa coragem que vem do desejo. Esse desejo que vem dessa fome incontrolável pelas palavras. Pelas minhas palavras.
Eu sei que vocês sabem o que é temer a escrita e a publicação, por isso tantas que me leem agora me dizem que nem mesmo conseguem se dizer escritoras. O medo pode nos conduzir ao silêncio. Mas o desejo nos faz explodir em arte.
Literatura pela Amazônia
Nesse sábado, dia 27 de abril, viajo para Manaus, onde participarei de dois eventos: a FLIC e o Navegar é preciso. Além de compartilhar a rua com as pessoas, também estarei num cruzeiro pelo Rio Negro, onde entrevistarei Itamar Vieira Jr. e serei entrevistada por ele. Também farão parte da programação o meu amado Marcelino Freire, a Tati Bernardi e o Christian Dunker.
É provável que eu fique sem internet por dois ou três dias, mas contarei os detalhes dessa viagem lindíssima assim que voltar. O que vocês querem saber? O que vocês perguntariam ao Itamar? :)
Uma apresentação
Como dito na descrição dessa newsletter e na divulgação que fiz, esse espaço de comunicação foi pensado para que vocês acompanhem o processo de escrita e publicação do meu próximo livro de poemas, porém há também a vontade de falar sobre o que é e como é a construção de um livro de modo geral, abrangente, passando pelas etapas que partem do criativo até o mercado editorial e os eventos. Estou planejando bastante coisa legal para vocês e espero que me acompanhem nesse novo projeto.
Beijos corajosos,
Jarid Arraes
Uma vez ouvi dizer que o leitor raramente percebe a exposição do escritor. Ele só quer se identificar e se enxergar naquilo que está escrito.
Acho que isso faz muito sentido, e é algo que tento lembrar sempre que bate o medo!
Estou escrevendo meu primeiro romance e já adorando essa news. Obrigada por compartilhar com a gente, Jarid :)
Você por aqui <3 Na terapia (que não faço mais) eu conversava muito sobre minha busca pelo sucesso dentro da literatura esbarrar no medo de acabar tendo um outro tipo de sucesso mais midiático e expositivo que me faz mal só de pensar e o quanto isso foi me desgastando ao longo dos anos.
Sobre o Rio Negro, é terra de alguns dos peixes de água doce mais lindos. Sou doido pra conhecer. Que seja uma experiência memorável pra ti e pro Itamar.